sexta-feira, julho 28, 2006

quarta-feira, julho 26, 2006

Não é fácil ser humano



Não me lembro do lugar onde nasci
Sei que era uma cidade de pedras
Um rio uma usina
Muitos homens
Nasci estradeiro
Rodas de caminhão eram os alicerces
Das casas de minha infância
Até que meu pai se cansou
De arrastar filhos atrás do trabalho
Paramos numa beira de estrada
Cresci e tornei-me humano
Não é fácil ser humano
Um dia senti minhas pernas fortes
E segui minha rota 66
Até hoje estou nesta estrada infinda
De encruzilhadas sedutoras
De paisagens variáveis
Ora agrestes selvagens
Ora florestas montanhosas
Mundo sempre me deixa boquiaberto
Hoje não mais conseguimos ficar sozinhos
Impossível esconder nossas identidades secretas
Super heróis são inconcebíveis
Sem RG e CPF
Sem endereço para pagar IPTU
Sem renda e não pagar IRPF
Encerro minha carreira de herói
Mas não é fácil ser humano.

domingo, julho 23, 2006

Ventos homens ventam

Ventos passam sem deixar traços
Ventos não param para pensar
Nunca se sabe a direção de onde vêem
Nem quais folhas farão cair
Nem que árvores irão balançar
Homem que segue como os ventos
Ama na relva dos campos floridos
Ventos param quando querem
Brisas nas cenas de amor
Homens passam pelos ventos sem dor
Para viver nos extremos da coragem
Passam a vida como os ventos.

Viver à sombra



Viver ao sol
Causa câncer de pele
Viver com outra pele
Distancia do sol
E do brilho das estrelas
Viver à sombra
Provoca escassez de cálcio
Enfraquece as estruturas do indivíduo
E desvia a personalidade.
Carrego para a vida
Um guarda-sol transparente.

Equívocos da realidade

Vaso manchado por respingos
De meu amor platônico
Aquela mulher das paragens de Goiás
Sempre me faz lembrar
Dos equívocos da realidade:
Estar sem ser
Viver sem querer
Seguir para ficar
Movimentar para não mudar
Falar para não pensar
Escrever para não ler.
Paradoxos de minha poesia
Metáforas de amor escaldado
Pelo sol de tardes invernais.

sábado, julho 22, 2006

Avessos misteriosos do pisciano


Avessos misteriosos do pisciano:
postar-se meio à multidão
só para refletir
sobre sua própria solidão.
Ou permanecer em casa
com seus calangos selvagens
assumir sua pose de camaleão,
camaleão moderno, bem dito,
com as cores de sua fantasia
e pensar em números:
dois oito meia, três oito um
para o norte ou para o sul.
São os números das rodovias
jogados na roleta da loteria
torcer para um acaso bem sucedido.
São margens para simulações
das estradas
Os rios hoje não são navegáveis
montanhas estão desmatadas

Navegar. É preciso.


Sol se despede de Câncer
conspirações menores não têm importância
atuações piscianas do momento
aguardam grandes viradas de mesa.
Aspiram grande
conspiram do mesmo tamanho
de sua percepção.
Hora de partir para a ação
Buscar locus da intuição
Pegar no leme do barco
Minas não tem mar
Pegar então aquele carro velho
escolher um rumo e partir
Moc, Bahia, Goiás
Vitória, Rio, São Paulo .
Sertão vai virar mar
Que se aprenda logo logo
a navegar. É preciso.

Bobagens: insanidades?

Bobagens faladas
soltam-se no vento
viram evento
notícias de jornal televiso.
Bobagens escritas
saem no segundo caderno
do jornal de domingo.
E as minhas bobagens?
Transformo-as em poesia
coloco-as num blog
metamorfoseam em bloesia
(ou seria bloguesia?)
Mas aquelas bobagens mais insanas
que não podem ser vistas
na sala de visitas
eu as engarrafo
enterro de noite num buraco de terra
e só me arrisco a desenterrá-las
depois de anos
quando provavelmente
se gaseificaram
e, quando abro a garrafa,
elas se evaporam como acas mau-cheirosas.


sexta-feira, julho 21, 2006

Sonoridade Nº II

Um grave grunhido
na garoa da gruta
se escuta.

Uma plumagem colorida
na margem perdida
se agita.

Na pausa da fome
um naco se come
da marmita.

Teu corpo em minha cama
um olhar que se derrama
me felicita.



Sonoridade Nº I


A saliência do sino

o silencia.
Um silêncio
soa em si menor:
sonata suave
sai de si.

Um cintiliar sonoro
sacode o suor
da saudade.
E o silêncio,
sábio silêncio
das secas sonoridades,
salva minha alma
da saturação.

Re-ame


Não desame.
Re-ame
Reclame.
Reclame muito
até o desamor desaparecer
no depósito de lixo
e ser icinerado como bicho
morto.
Torto esse desamor.
Sem louvor.
Vexame.
Re-ame
Reclame do torpor reacendido
na vaga do amor-desamor.
Re-exame
de um a dez todos os pecados
gravados nas tábuas das leis
rasgados
algumas leis devem ser revistas
desobedecidas
re-editadas
como medidas provisóras
e votadas
voltadas para o nada.
Vexame
reclame
re-arme
desarme
não desame.
Me ame.


quarta-feira, julho 12, 2006

Escritura da dança

Escritura da dança
se desfaz no movimento
Leitura da dança
permanece por um momento
Movimentos são deslocamentos
Momentos são efêmeros
Corpo estava aqui
neste espaço que se consolida
com sua presença
Não está mais.
Pêndulo em movimento
vai e vem
mas o que vai
não é o mesmo que vem.
Tempo que se eterniza
no movimento
que se sincroniza
se desmancha
neste corpo que dança.
Eterno e síncrono
etéreo movimento.

segunda-feira, julho 10, 2006

Alguém pode me jogar um laço?



Pessoas de Peixes:
Emotivos, sensitivos, intuitivos
(afirmam astrólogos).
São demais os motivos
para sonhar tão alto
e não ter os pés no chão.

Alguém pode me jogar um laço
trazer-me de novo para a terra?
Ar rarefeito próximo das nuvens
prejudicam minha respiração.

Quero o chão

cheio de pedrinhas ferindo meus pés
Pleno de lesmas e minhocas.
Vermes ajudam a manter o otimismo
naqueles sonhos largos
em noites frias sem fogueiras acesas.

sábado, julho 08, 2006

Hoje não é um sábado qualquer

Amor e fraternidade
Poesia e lirismos
Leituras do jornal no café da manhã
Belas visões para um sábado qualquer.
Não é um sábado qualquer:
Hoje levantei-me preguiçoso
Tanto trabalho a realisar
Nada a provocar sonhos idílicos.
Realidade é bem outra
Escritores dos cadernos culturais
parecem não ler as primeiras páginas
Do mesmo pasquim cotidiano.
Em que gramado rola minha bola?

quinta-feira, julho 06, 2006

É preciso ousar

Tensão entre Vênus e Urano
Rejuvenesce amor e outros sentimentos
enraízados em corações humanos.
É preciso ousar
na busca da liberdade
do livre arbítrio
e na defesa dos valores individuais.

Quem rompe amarras
arrasta o inesperado
assusta e fascina.

quarta-feira, julho 05, 2006

Leituras dos rastros

Saber ler os rastros dos bichos

Pode significar a sobrevivência na selva

Qualquer selva

Mesmo na selva urbana.


Saber ler os garranchos de minhas palavras

Pode ser a minha sobrevivência

De escrevente,

Quiçá poeta.


Saber ler os sons dos instrumentos

E colocar palavras neles

Significa sobrevivência da música

E dos músicos.


Minha grande frustração:

Não sei tocar um instrumento.

Só conjugo o outro verbo tocar,

O de meter o bedelho onde não sou chamado.

Mirando silêncios



Gosto de olhar o silêncio -
melhor das reinvenções
dos tempos pós-modernos
Tempos de ruídos nas ruas
excesso de vozes em ALTO falantes
Sobram palavras nas bocas humanas
bocas que falam pelos coltovelos.
Músicas sobrando nas rádios
Motores a combustão grunindo nos asfaltos.

Reiventemos o silêncio
Aquele silêncio de pássaros cantando
de água rolando nos rios
de rios sossobrando nos mares.
Pessoas no máximo conversando baixinho
tecendo ruídos apenas de passos
e de corações batendo.


Reinventemos, pois, o silêncio
Até que meus olhos possam vê-lo
e interpretá-lo visualmente.


domingo, julho 02, 2006

TRIÂNGULOS


/
Eu
adoro
triângulos
retos, isósceles
escalenos e amorosos.

Eles têm um certo ar
transgressor
perverso
vil.
/


Sobre hinos e copas



Em tempos de copa do mundo
aprende-se:

O hino do México
mata e destrói os inimigos
mas deseja-lhes túmulos honrados.