quarta-feira, maio 23, 2007

BELEZA DAS PAIXÕES



Se eu acreditasse em deuses
Cristãos, muçulmanos ou umbandistas
E estivesse à beira da morte
Atropelado nas margens de uma estrada
Caminhos dos belos horizontes
E me fossem concedidos dez segundos
Para agradecer ao mundo pela minha existência
E convencer que teria sido boa gente
Que teria eu dito?
Teria eu louvado pelas mulheres
Agradecido por sua criação
Demonstração de inteligência e arte
Penitência divina pelas mazelas do mundo,
E dos homens principalmente.
Naquelas formas suaves
No traçado alongado de suas costas
Nas curvas arredondadas de ancas e seios
Na capacidade de doação e abandono
E, principalmente, no sorriso,
Sobrevivem a beleza das paixões.
Agradeceria por tê-las colocado na minha vida
Selecionado aquelas especiais
Para companheiras, amigas, amantes,
Alunas – denunciei-me
Passageiras de passos
Sem falar nos cachos dos cabelos.
Omitiria nesses dez segundos, eu sei,
Que se eu vier a renascer mulher
Lésbica eu serei.

segunda-feira, maio 21, 2007

SOL, SOU EU EM MAIO


Em maio eu não tenho medo de nada:
nem da solidão
nem da secura da garganta
nem de líquidos sobreviventes
que poderiam me afogar no largo da banheira
nem da ausência das mulheres em minha vida.
Em maio eu me caso comigo mesmo.
Não me basto, evidentemente: sou homem coletivo e plural.
Gasto-me em gestos
em dança
em caminhadas no seco sol da manhã.
Em despistagens das possíveis tristezas ambulantes:
Deixo que passem sem pouso em minha garagem.

O lado vazio de minha cama
Reclama
Não durmo de pijama e sinto frio.
Aponto apenas um fio
Para as águas do pequeno rio
Que deságua em minhas loucuras.
Sol, sou eu em maio.
Maio, sou eu ao sol.



HORTÊNCIAS SOB CHUVA ARTIFICIAL


As gotas são artificiais: chuvas que provoquei ao amanhecer. A luz do sol é natural. Já marcavam umas oito horas no relógio dos dias de quase inverno. Ah, eu sabia! ainda é outono. O que não quer dizer muita coisa nesta cidade das montanhas. Não temos inverno. O calendário de apenas três estações, fazendo diferença com boa parte do mundo, civilizado ou não (existe realmente uma diferença grande entre mundos civilizados e não civilizados?) não nos deixa nem um pouco diminuídos. A ausência de inverno nos presenteia com uma primavera mais longa. Com flores ao longo dos anos. Este pé de hortências me presenteia flores lilases esvaecendo aos poucos por longos períodos. Além disso, o sol de metade do ano me abastece com belos pôr-de-sóis, lindos amanheceres, noites estreladas, um pouco de fumaça no horizonte (isso por conta de estúpidas queimas de vegetação e lixo). E as chuvas da outra metade do ano garante a umidade necessária aos pobres solos tropicais. Quero olhos de ver coisas tão belas e sensibilidade para percebê-las, e fotografá-las.

quarta-feira, maio 16, 2007

OLHAR SOBRE FLOR Nº 01

Esta não é uma imagem de arquivo. Ela existe em meu jardim. Começa seu processo de degradação natural, como se pode ver em suas pétalas mais centrais. Ainda posso observa-la, todos os dias, logo depois do nascer do sol. Em um momento do dia, ela tem essa cor, essa tonalidade, esse brilho que a faz eterna, embora seja uma flor no ocaso de sua existência. Luz e sombra e seus encantos naturais. Ou meu olhar através das lentes (fenda número 5)colocam um pouco de mim nesta imagem.




quarta-feira, maio 09, 2007

SOU VIL, SOU MIL



mil loucuras cometo
cada dia
que não publico
um poema
uma fala inválida
um som preso na garganta
uma nota solta no espaço.
há dois meses sou louco
preso nos castelos de palavras
e de flâmulas de um time perdido.
sou fraco
com topete grandioso.
sou vil
com vontade
de ser magnânimo.
sou mil
embora quase nada.