sábado, junho 09, 2007

TEMPO REAL


Tempo real
é o tempo que desaparece.
Se o tempo desanuvia no espaço
o que resta?
O espaço?

Se a velocidade do tempo
suprime o espaço
a velocidade também
entra em extinção simbólica?

nem fim da história
nem fim da geografia,
tempo e espaço
almas gêmeas das territorialidades
sobrevivem em complexa simbiose,
em territórios ontológicos
ou reorganizados.

Tecnologias trazem
desterritorialização
das tribos sobreviventes:
as tribos sempre sobrevivem
em novos territórios
materializados à fórceps.


Catarses e emblemas



Campos sem girassóis não alimentam pássaros
amazonas desmatada ostenta deserto de ossos
horizontes negros de fumaça
de plásticos queimados
amortecem odores de dioxinas
Biocombustíveis dos paradoxos tecnológicos
mamonas assassinas dos campos e cerrados
movimentam vida de centros urbanos.

Mulheres pobres dos aglomerados

alimentam os filhos com balas carameladas
e batatas fritas de sacos plásticos coloridos.
Desnutrição embelezada
abastece dores de dentes cariados.

Alguns poemas são prévias de suicídios
catárticos e emblemáticos
evitam a dor (ou a antecipam)
da morte premeditada:
Ninguém morre só de palavras.
A boca e o sorriso da morena
passeando em minhas texturas
acalentam minha sanidade.
Escrevo poemas cáusticos
para sacolejar minhas alegrias.

Um dia aprendo a cantar uma música
e minha voz grave entorpecerá o ambiente.


terça-feira, junho 05, 2007

BRINCADEIRA DE DEUS ARTISTA

Esculpi uma boca na porcelana
dos pensamentos cotidianos
com cinzel e martelo
da oficina de projetos a serem patenteados.
Queimei-a no forno
das cerâmicas de altas temperaturas.
Sobre a peça reluzente
e ainda quente
pintei um sorriso deslumbrante
da cor de baton
entre o vermelho das paixões
e o claro dos amores serenos.
Deslumbrado com a beleza
da peça esculpida
como um miguel
anjo de tempos pós-modernos
disse - viva - e a beijei.
Surgiu uma linda morena
compondo a boca esculpida.
Brinco de deus artista
mas não fabrico mulheres em série.
Só as que convido para o amor.