Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
sexta-feira, setembro 19, 2008
DE TERNO RISCADINHO
Vesti meu terno riscadinho:
- ele jamais me decepcionou.
Quando ajeito-o sobre a pela
coisas interessantes acontecem.
Morena exuberante
finge necessidade de informação
para aproximar-se.
Não ganho na loteria
mas a sorte sorri para mim
ou sorri de minha elegância
desajeitada.
Sempre fui amante de bota,
indigo blues e camisa polo,
mas o terno riscadinho
tira-me de minha rotina
e peço chá de flores azuis
ao cair da tarde
no lado sul da cidade,
ou ouço uma música alegre
que me lembra uma saudade
deixada no passado
no perdido da vida
esquecida na vila
desenhada além da montanha.
Separo-me do terno riscadinho
no início da madrugada,
deixo-o pendurado no cabideiro
onde possa vê-lo ao acordar.
sábado, agosto 16, 2008
RIO
RIO
sexta-feira, junho 27, 2008
ALEGRIA A ALTO CUSTO
Não procuro alegria a todo custo:
Mas quando ela vem
mesmo aos pedaços
mesmo devagarinho
ainda que titubeante
quiçá trôpega
embora cambaleante
faz um bem desproporcionado.
Como faz!
terça-feira, junho 24, 2008
LEMBRANÇAS E IDENTIDADES
Lembranças são inocentes:
não mudam o mundo das coisas,
salvam-nos das coisas do mundo.
Nossas memórias somos nós
nossas identidades
nosso registro de humanidade
sem número em documento.
Assim recordo-me
numa rajada de luar
num relâmpago de todos os ontens
nos traçados dos amanhãs
nos círculos de todos os agoras
nas espirais de todos os instantes
nas sinfonias de todos os tempos.
ENTRE MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS
Não são mudanças que me surpreendem,
permanências são meus espantalhos.
Algumas mais duradouras
que a esperança
de vê-las desaparecerem.
terça-feira, junho 03, 2008
Sobre fracassos e sucessos
Há duas maneiras de fracassar:
pensar que o fracasso é iminente
ou que faz parte de tua vida;
pensar que és um sucesso absoluto
e que nada pode ofuscar
nem a ti, nem a teu sucesso.
sábado, abril 26, 2008
CASA DE PENHORES
Levei meu coração numa casa de penhores
(precisava de uns trocados, que novidade!)
- tá meio fraquinho, não?
- bate regularmente, sem atraso, setenta batimentos por minuto.
- e esse colesterol aqui?
- só um pouquinho, ando sem tempo para malhar.
- uma corridinha faria bem.
- ele bate forte diante de mulheres bonitas.
- ainda por cima, um coração mulherengo!
- coração apaixonado não serve não?
- não, leve de volta esse trambolho,
não tem valor para nós, ta muito usado.
- só foi pisado duas vezes.
- e essa marca aqui?
- é que a última usava salto alto tipo agulha.
- melhor deixa-lo no fundo do armário.
- e o fígado? Penhora o meu fígado? Olha, eu nem bebo.
domingo, janeiro 13, 2008
RELEITURAS ROSEANAS 07
A ponta do mistério
está no milagre que não vemos
quando nada acontece:
quando o silêncio se espraia
pelas veredas tortuosas;
quando as imagens nos espelhos
virtualizam a realidade
(impossível realidade)
por trás das máscaras
(infidelidade dos espelhos)
além dos objetos visíveis
(desonestidade dos espelhos).
Mesmo as fotos em seqüência
das modernas câmeras digitais
nunca são iguais.
Que milagre do tempo irreversível
faz esse mistério desapropriado
de iconografias destemperadas?
Espelho, espelho meu!
Atente-te à sutileza dos fenômenos!
Aqueles que os olhos não vêm,
principalmente os meus olhos:
o rosto que vejo no espelho não é meu,
é outro, atemporal,
uma traição do tempo
milagre invisível do inacontecido,
nas sombras silenciosas
a outra ponta do mistério.
E cubram-se os espelhos
para que os mortos não se vejam
e seus ânimas sobrevivam.