domingo, janeiro 13, 2008

RELEITURAS ROSEANAS 07



A ponta do mistério
está no milagre que não vemos
quando nada acontece:
quando o silêncio se espraia
pelas veredas tortuosas;
quando as imagens nos espelhos
virtualizam a realidade
(impossível realidade)
por trás das máscaras
(infidelidade dos espelhos)
além dos objetos visíveis
(desonestidade dos espelhos).

Mesmo as fotos em seqüência
das modernas câmeras digitais
nunca são iguais.

Que milagre do tempo irreversível
faz esse mistério desapropriado
de iconografias destemperadas?

Espelho, espelho meu!
Atente-te à sutileza dos fenômenos!
Aqueles que os olhos não vêm,
principalmente os meus olhos:
o rosto que vejo no espelho não é meu,
é outro, atemporal,
uma traição do tempo
milagre invisível do inacontecido,
nas sombras silenciosas
a outra ponta do mistério.

E cubram-se os espelhos
para que os mortos não se vejam
e seus ânimas sobrevivam.