sexta-feira, março 27, 2009

PALAVRAS CAPTURADAS II



Meu desconforto com mundo
se materializa
em formas
fotos
cinema
letras grafadas
em suporte de papel.
Suporte, travador de afetos
deslocador das imagens
paradoxos da linguagem.

Os livros de anatomia
nada dizem sobre movimentos
não mostram deslocamentos
só as curvas dos músculos em repouso.
Mas corpo de bailarina
(de bailarino)
não repousa nem na pausa.
O suporte sim, se estabelece
o suporte permanece
desencadeia a memória.
Memória não é real
depende, sim, de papel,
de cheiro
do objeto esquecido
da imagem disparada.

Imagem paisagem
observação captura
curiosidade.
O artista sempre tenta 
colocar o ovo no eixo vertical.
Navegador quebra o ovo
não para fazer omeletes
mas para exibir sua arrogância.
Viva minha ignorância
sobre ovos e navegações.


PALAVRAS CAPTURADAS I



Lançamento:
a forma vem antes da força
a força alcança a forma
esta se espalha pelo chão de espelhos
imagens de convidados para a festa.
Imagens disparadas
imagens esquecidas.
Dança serpentina
parangolés de Oiticica.
Intensidade
velocidade
captura
coerência
tudo presente nos jardins
e na troca de aflições dos convivas
tantas aflições presentes
nas imagens e nos objetos reais
presentes
de carona na janela.

Paixões da história 
ou paixões pelas histórias repetidas
(a história sempre se repete
as estórias sempre se recontam)
que movimenta os adoradores de imagens?
Santa fotografia
Santo cinema
Santa dança.

Dança é conhecimento
dança é presença particular
na captura das imagens
movimento
dança generosa
na captura de linguagens.
Os filhotes da dança
gazeificam o cenário
contaminações ativas disparam imagens
desaparecem seres humanos
até não humanos presentes
nos entreatos:
capturar o tempo
capturar a memória
guardar as palavras no armário.

Algumas coisas só tem sentido
para nossas paixões 
para nossos desejos.
Em meu caderno não desenho bailarinas:
escrevo fórmulas matemáticas
deseho projetos de peças mecânicas.
Papel, letras escritas, negociações.
Alguns objetos são mais efêmeros que outros.
Utensílios
ferramentas
aparelhos de barbear
relógios de sol
permanecem.
Outros são corroídos facilmente
ferrugens
bactérias
roedores
se instalam
e a matéria se efemera 
lentamente
lentamente
lentamente
desaparece: 
coerência do mundo. 
A coerência basta?
Todos se satisfazem com esta coerência mundana?
Ou precisamos dilui-la?


quinta-feira, março 26, 2009

Captura fotográfica



O momento que se captura
no centésimo de segundo
de abertura do obturador
representa quanto tempo de fato
em minha vida?

Mas a máquina fotográfica
o registra digitalmente
como se fosse mágica
no momento da parada
e rouba minha alma
envelopa minha memória
naquele tempo que não vejo.

Não observo a mim mesmo.
Só me vejo em registros de outros.
Vejo-me aos pedaços,
a imagem apenas sugere
nunca mostra aparências
nem vivências acumuladas.

Quebra-cabeças



O quebra-cabeças da casa
se incorpora em suas paredes,
frestas e luzes.

Descobri-las implica em sobrepor
imagens sobre imagens,
sobre outras imagens,
espelhos
vidraças
janelas.

O quebra-cabeças da casa
não está na casa
está na cabeça
de quem nela habita
ou frequentemente visita.

sábado, março 21, 2009

JUST A MAN




Sou apenas um homem

Membro de uma raça antiga

mas nem tanto.

Apesar das catástrofes

A raça humana se espalha pelo mundo

Ocupa todos os espaços:

Procuro uma região tropical

Ainda não visitada pelo homem

Nem vista por satélite.

Existe? Creio que não.

sexta-feira, março 13, 2009

Medida de valores



Não existem medidores 
para verdades e mentiras.
Valores do homem
não são medidos 
em volumes de lágrimas
em seu velório.
Talvez em largura de sorrisos
nas faces dos amigos
ou simplesmente conhecidos
quando seu nome é pronunciado.