domingo, janeiro 31, 2010

VALE A PENA VIVER Nº 03

 

O destino nem é tão longe
mas trajetória é árdua e sinuosa.
Dez quilômetros estreitos de estrada
negociação com o dono da fazenda
quarenta minutos de caminhada
por trilhas serpenteadas (sem/com metáforas)
algumas graviolas maduras para compensar:
assim são os caminhos dos cerrados.

De repente, num alçapão das montanhas
no fundo de uma grota perdida
descortinam-se a cachoeira e o pequeno lago.
Ao lado da queda d’água
uma montanha escalável
 - Como será no alto? –
Para subir a montanha
nas pontas dos dedos das mãos e dos pés
necessário atravessar o lago a braçadas.

Surpresa!
No alto da montanha outro lago (menor)
e outra cachoeira (tão bela quanto)
invisíveis a quem não se aventura
a vencer pequenas dificuldades escarpadas.
Mas a visão do vale
ao pôr-do-sol que se apresentava
valeu alguns anos de minha existência.



sexta-feira, janeiro 29, 2010

VALE A PENA VIVER Nº 02






A estrada é larga e longa
leva a destinos precisos
ou imaginários
ou a qualquer lugar não se sabe onde:
destinos não são importantes.

É noite.
Pessoas queridas dormem ao lado
ou no banco de trás.
Uma música leve
e guloseimas para mastigar
ajudam a espantar o sono.

Poucos faróis
tempo para pensare
e uma calma d’alma
como se cumprida uma promessa a si mesmo.
Esse estado de espírito
na auto-estrada à noite
vale uma vida.


quinta-feira, janeiro 28, 2010

VALE A PENA VIVER Nº 01



Gosto de cozinhar.
Lavo as vasilhas, limpo a pia e o fogão,
organizo os ingredientes do dia.
Antes de qualquer continuação abro uma cerveja
coloco o copo na prateleira ao lado do fogão
descasco e pico as cebolas:
o primeiro gole vem antes da primeira lágrima
(quem não chora ao descascar cebolas?)
O copo se esvazia aos poucos
entre o cheiro dos temperos
e a leve fumaça que se evolui
como passista de escola de samba
na pista de dança
e aquela provadinha do molho na palma da mão.
O último gole fica para o mágico momento de por a mesa.
E espero o sorriso de aprovação dos comensais.
Isso vale uma vida.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

VIAGEM PARA CRONOS



Caminhos
de ida
são os mesmos de volta.


Só reverter os passos
e repisar nos traços
deixados pelos pés.


Caminhos de ida sem retorno
só para Cronos
terra/tempo
com bilhete sem volta.

RELEITURAS ROSEANAS 09


Mistérios, sempre os há
sempre os haverá de ter.
Ensinamentos modernos desvendam alguns
rompendo crenças e tradições
atualizando conhecimentos
evoluindo modernidades.

Outros são insondáveis:
saberes antigos ensinam,
assim devem permanecer.

Insondabilidade de alguns mistérios
reafirmam a perenidade e insolvência
da vida.
Nem tanta modernidade necessitamos.


CULINÁRIA DO SOFRIMENTO





Sofrimento?
Cozinhe-o em fogo lento
tempere-o
para explicitar a dor
e espere
até que seque a água.
O segredo é não ter pressa.


Pegue então a massa sólida
pastosa ou cristalina
(depende da intensidade do sofrimento)
no fundo da vasilha
jogue-o no rio.


E esqueça.

CORA CORALINA





Cora Coralina


cora coralinda


cora linda


linda


linda, cora


cora


vigora


revigora


cora, lina


cora, linda


benvinda


agora.