quinta-feira, junho 24, 2010

FUTEBOL É POESIA

Por décimos de segundo a bola se esconde.
Vigiada de todos os lados:
32 olhos eletrônicos a observam
mapeiam
redesenham sua trajetória
fiscalizam suas puras curvas
conceituam seus humores
assertivam suas negativas
postulam suas imposturáveis regras.

Mas a bola, vingando-se de seus criadores
dos laboratórios das genéticas tecnológicas
dos materias insofismáveis,
deixou cegos e atônitos
milhões de espectadores.
Onde esteve nesse imensurável décimo de segundo?
Na linha do gol
ou em suas entrelinhas?

domingo, junho 20, 2010

VALE A PENA VIVER 09



Mais de quarenta anos de futebol
Essas pernas correram
Como se corre atrás de sonhos
Como se corre atrás de pequenas ilusões,
Ou grandes, não importa.
Não fui craque da peleja ludopédica
Apenas um atrevido peladeiro
Dos clubes factoriais e de companheiros,
Fanáticos como eu, talvez.
Pedalei o suficiente para lembrar
Da insustentável leveza da redonda
Amortecida no peito,
Descendo em câmara lenta pelas pernas
Até chegar, mansa e macia, nos pés
Que tentavam sempre a grande jogada:
Talvez não viesse, tal grande jogada,
Talvez a perdesse para um adversário
Qualquer coisa na sequência
era uma grande jogada
e, honestamente, viveria de novo:
reivindico a marcha-ré de Chronos,
o movimento no sentido anti-horário,
o retorno, que breve seja,
a um instante fugaz de alguns anos atrás
para, de novo, sentir essa alegria ínfima,
porém majestosa, de correr depois do gol.