No escuro da madrugada
minha inexistência dorme
e sonha
com um mundo maravilhoso
que nem existe.
Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
No escuro da madrugada
minha inexistência dorme
e sonha
com um mundo maravilhoso
que nem existe.
Eu queria era uma saudade
Daquele sertão, daquela beira de rio
Porque o rio está sempre lá
Embora nunca seja a mesma água
Ele quer sempre é chegar
Nas larguras e profundezas.
Quero dormir de cara para a lua cheia:
Tudo é preto no meio do luar
Preto e invisível quero ficar.
Vida é um conceito que a gente cria
Rastreando e medindo o mundo
A olhos e a cheiros de manhãs.
Todo dia é véspera e acontece,
Acontece por já estar pronto,
Mesmo sem a gente saber
Do amanhã, em nossos sonhos.
Em sonhos procuramos destinos
Pedimos que não nos atrapalhe
Contamos nossos segredos de viver
Nossa realidade, sem astúcias,
Nossas esperanças e desconsolos.
Na vida aprendemos, sempre,
A fazer nossas grandes perguntas
Ao rio que, em sussurros, nos responde:
É na alegria que se realiza.
Na alegria eu me levanto
Sabendo tudo que eu quero
Uma coisa somente eu diria
Quero apenas ser sempre eu.
E como o rio vou seguindo
Procurando larguras e profundezas.
Aquele sossego presente nos silêncios:
Rastros, deixados por falas humanas
Nas carregadas brisas das manhãs,
Perturbam corações inquietos.
Não é, necessariamente, o silêncio
O elemento mais perturbador,
É a desesperança que o acompanha.
Territórios precisam de esperança
Para além de suas esquisitices,
Para além de suas tristezas interligadas.
Recordar, é o que sobra
De nosso entendimento das trivialidades.
“O correr da vida embrulha tudo”.
Coragem. É o que Deus quer da
gente?
Ficar alegre no meio da tristeza?
E sentir a dor dos sentidores?
Ah, esta vida desgarrada
No meio do bravo sertão,
Onde vou escrevendo em cores,
Meu coração em estado de moleza
E sons amotinados na doce canção.
Enquanto isso a morte, sem
sutileza,
Se esvai nas raras fumaças dançáveis.
Acima das fogueiras do sertão.
E as moças morenas, em passeata,
Com cabelos pretos rebrilhados
Por óleo de umbuzeiro
E flores enfeitando espíritos
Vão bordeando a mata
Molhando os pés em suas veredas
E a cachaça vai tomando gosto
A cachaça vai tomando cor
Nas dornas de umburana dos alambiques.
Será servida nos acompanhamentos
E pelo sertanejo conduzida
Como pagamento de sua passagem
Na fronteira de outra vida.