Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
terça-feira, dezembro 15, 2009
Mãe, mulher outra
Mãe é uma imagem de mulher
que se destrói
ao nos tornarmos homem.
Aí, mãe se refaz mulher.
Distante.
Mais próxima que antes.
sábado, dezembro 05, 2009
Fácil difícil
Falar é fácil
Escrever é difícil
Silenciar é muito difícil
....................
Escreve-se em silêncio!
terça-feira, dezembro 01, 2009
Anticurrículo das ignorâncias (para meu amigo Dácio)
Comprei três livros:
somaram-se aos cinco comprados há quinze dias.
E outros e outros e outros não-lidos.
Livros não-lidos em minha biblioteca ameaçam.
Envelheço e eles aumentam em número e importância.
Aposentadoria se aproxima
preparo meu anticurrículo -
exposições de minha ignorância acumulada.
sexta-feira, outubro 23, 2009
Interragocões e anzóis
Quando a interrogação nos assombra,
melhor virá-la de ponta-cabeça
prendê-la em linha e vara
catar minhocas
e ir pescar.
Soluções,
costumam vir com os peixes.
quarta-feira, outubro 14, 2009
Memória e esquecimento: Os olhares
Recuso-me a esquecer. Depois dos 50 anos, memória e esquecimento travam uma luta ferrenha. Cada um querendo a primazia da ocupação dos espaços. Já que o esquecimento ganha quase sempre, quero pelo menos discernir sobre o que esquecer e o que lembrar. Então, prefiro esquecer datas de aniversários, hora de fazer pequenas e desimportantes coisas, local onde o carro está estacionado, onde ficou a chave, os óculos, a mochila, o tênis para a caminhada, o chapéu, quem mandou bater o portão sem se certificar que a chave da casa está no bolso? Como entramos em casa agora? A procura pode ser divertida se guardamos o bom humor, e depois é só chamar o chaveiro, mesmo as duas da manhã a gente encontra um aberto. Depois dos 50, que razões para perder o humor?
Tanta coisa para esquecer, menos do sorriso, da voz, da boca no momento do beijo, da língua que passeia sorrateira pelo corpo, como uma serpente escolhendo o local onde meter o veneno, do olhar. Ah, do olhar. Que olhar. São sempre dos olhos que me lembro. Aquele olhar que me procura, assim, olhando de esquina, fingindo que não procura, não olha e não vê. Olhares da mulher amada. Não dá para esquecer.
sexta-feira, setembro 04, 2009
ÍCONES
Poesia não é código, palavra sim.
Tempo, distância segura
A história tem sempre razão
BOCEJO DOMÉSTICO
Não tenho medo do futuro,
A dúvida que me faz qualquer,
Vestido para grandes dias
Como minha morena está bonita
segunda-feira, agosto 31, 2009
ARTE NO COTIDIANO
É cotidiano?
Faz parte da vida?
É arte.
Ou pode vir a ser arte,
já que a arte imita a vida
e a vida faz plágio da arte.
segunda-feira, abril 20, 2009
RELEITURAS ROSEANAS 08
sexta-feira, março 27, 2009
PALAVRAS CAPTURADAS II
PALAVRAS CAPTURADAS I
quinta-feira, março 26, 2009
Captura fotográfica
O momento que se captura
no centésimo de segundo
de abertura do obturador
representa quanto tempo de fato
em minha vida?
Mas a máquina fotográfica
o registra digitalmente
como se fosse mágica
no momento da parada
e rouba minha alma
envelopa minha memória
naquele tempo que não vejo.
Não observo a mim mesmo.
Só me vejo em registros de outros.
Vejo-me aos pedaços,
a imagem apenas sugere
nunca mostra aparências
nem vivências acumuladas.
Quebra-cabeças
O quebra-cabeças da casa
se incorpora em suas paredes,
frestas e luzes.
Descobri-las implica em sobrepor
imagens sobre imagens,
sobre outras imagens,
espelhos
vidraças
janelas.
O quebra-cabeças da casa
não está na casa
está na cabeça
de quem nela habita
ou frequentemente visita.
sábado, março 21, 2009
JUST A MAN
Sou apenas um homem
Membro de uma raça antiga
mas nem tanto.
Apesar das catástrofes
A raça humana se espalha pelo mundo
Ocupa todos os espaços:
Procuro uma região tropical
Ainda não visitada pelo homem
Nem vista por satélite.
Existe? Creio que não.
sexta-feira, março 13, 2009
Medida de valores
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
Espectador e espectáculo
Sou um espectador,
quero o espectáculo
quero a obra de arte
não a realidade empírica da vida.
Essa, eu a vivo cotidianamente
mesmo sabendo que ela nos engana.
O espectáculo, quero transforma-lo em realidade.
De qualquer modo,
a vida é um fenômeno
(espectáculo) puramente estético
onde espectador e actor se mesclam
na contemplação e no saboreamento
dos prazeres clássicos quase imortais
desde Homero e Sófocles.
FILOSOFIA DE CARNAVAL
Existência do mundo
é fenômeno estético
ou é a estética do mundo
um fenômeno aleatório?
Sequência de jogos de dados
duplo seis transforma natureza
evoluindo não se sabe para onde?
Ou existência do mundo,
fenômeno das probabilidades
sequenciamento frutuoso do caos?
O artista é um pessimista
puro e romântico?
Otimistas, por opção intelectual,
não tem chances nas artes?
No carnaval, visto-me de palhaço
e aprendo melhor a rir
ou fantasio-me de mulher
e aprendo melhor a amar
ou me transformo em calango
e aprendo a melhor ver as entranhas
dos muros de pedra.
O encantamento dionisíaco das metamorfoses
por momentos, apesar das realidades,
permitindo viver um pouco além delas,
é o encantamento singular do carnaval.
Agora, aprender com as metamorfoses,
é assunto pessoal.