Sonhar contigo
tempo antigo
cabeleiras e cetins.
Fotos desbotadas
tardes amareladas
colinas e marfins.
Ella
nua
crua
negra
pura
dura
invade-me.
E explode
a rua.
Comprei um pote de mel
de flores silvestres.
Provei-o com o dedo.
Lembrei-me de uma boca
tive saudades de um beijo.
Senti, na língua, a doçura de um corpo.
Palavras, algumas,
precisam ser gritadas
para existirem,
depois dicionarizadas.
Palavras, outras,
melhor sussuradas,
seja ao vento
e longe encaminhadas,
seja às orelhas
de uma amada.
Palavras, umas,
preferem ruídos e chiados
em ressonância transmitidas.
Palavras, comuns,
soam normalmente suaves
por pessoas visivelmente calmas,
sem grandes apelos dos sentidos.
Mas o silêncio, este,
só entendido por outro silêncio.
Aquele de dentro,
cultivado por poucos
nada normais medianos.
Às vezes lúcidos.
Quem ama o silêncio
é capaz de amar um mundo.
Até mesmo outra pessoa.