Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
sábado, agosto 25, 2007
coração de mergulhador
Eu te amo sem preâmbulo
eu te sigo sem cão de guia
sem bússola nem pedrinhas
para me mostrar o caminho de volta.
não tenho afta
mas leio kafka
e como tabule no jantar
e penduro meu coração no escafandro
para que ele molhe no mergulho.
RELEITURAS ROSEANAS 05
Na terceira margem
eu cismo
me encarrego de sofismas
desempalpáveis.
Na terceira margem
minhas coragens se anuviam
e se arrependem
do desembainho da faca
cortante.
Na terceira margem
a esperança
se desalumia
no despropósito
de tristes palavras.
Mas eu sorrio
sou rio
na terceira margem
do rio.
Sou peixe
desentoco
no fugidio da pesca
nos entretraços da rede
no desenlace da façanha
de remar
e remar
e remar.
Embora vou-me
para a margem do meio.
RELEITURAS ROSEANAS O4
Caminho ouvindo música
sigo até onde a canção me leva
desafobado
sossegado.
Calma artesanal
de quem fabrica vácuos
e cheira tolerâncias na atmosfera!
quinta-feira, agosto 23, 2007
O PÃO DO DIA
Hoje comerei o dia
salpicado de gotas de sol
regado a vinho do Porto.
Se estiver bom
como estará, eu creio,
partilha-lo-ei
com uma morena da serra
e a colibri de meu jardim.
quarta-feira, agosto 22, 2007
VINGT CENTIMETRES
Je suivis une femme dans les rues.
Peau claire, yeux noirs, cheveux noirs
corps fin, bouche grosse et plaine
et une très tremblante façon de marcher.
Métropoles multiple et polyvalent,
Il est difficile lier les gens à la ville.
Mais je la suivis par un détail:
une partie nue de son dos.
Vingt centimètres entre la mini blouse
et la ceinture de l’indigo blues.
Jolie dos
à bouger malicieusement
en marchant délicieusement.
Je la suivis par autant des rues
jusqu’au moment qu’elle entre
méfiante
dans une boutique.
SYNDROME DE VAMPIRE
Je m’amusait à me promener
dans les cimetières
à minuit.
Je m’habillait
de mon manteau noir
et avec mes grosses canines
je vampirait aux alentours
à séduire des jeunes filles
pendant mes courses noturnes.
Pour avoir une apparence normale
j’ai scié mes dents :
mais il me reste un énorme désir
par les beaux cols
et par le sang rouge
qui coule jusqu’à ma bouche
et qui apaise ma soif.
segunda-feira, agosto 20, 2007
sexta-feira, agosto 17, 2007
RELEITURAS ROSEANAS 03
Conversa de aranha não tece a teia
Calangos são quem me escutam
Linguajar de noturnas notas
Em minutos mansos da madrugada
Quando me aperfeiçôo em grandes causos
De se contar sem meias-palavras.
Arremesso-me nesses discursos
Arremedo-me nesses meus percursos
Com dotes de amansar leoas.
Asseguro-me que Marte não vire Lua
De encabular filósofos.
Neste passo vou me enveredando
Minha garça em graça de vôo até Viena
E a cana caiana se engarapa
De tão doce na garganta se encanela.
Um beijo estalante acalanta
No colo suave se assanha
Taramela de meu corpo se fecha
Encerrando sonhos e poemas acumulados
Em gavetas empoeiradas de minhas entranhas.
quinta-feira, agosto 16, 2007
RELEITURA ROSEANA 02
Tudo se amacia na tristeza
Pronto abandonada ao largo
Dos tristes trópicos:
Sei nada não.
Aquela saudade permanece abandonada
É na alegria que me reconheço!
Deixei minhas infâncias adormecidas
Naquelas matas montanhosas de minha cidade
De crescer e virar gente.
Maluquice de garoto amanhece o dia.
Quem me dera ver
O florescimento arrebatado
Daquele meio-dia?
Quantas horas de sol sobre a pele
De pintas e pelos de jaguatirica?
Quase felino caminho
Quase bicho cheiro
Quase mata verdejo
Quase peixe mergulho
Na clareza das águas rasas
Dos rios bronzes de pedra
Adormeço!
quarta-feira, agosto 15, 2007
ESPELHO, ESPELHO MEU
Espelho, espelho meu,
Não me olhes com esta cara
Fico com medo de ti.
Hoje amanheci azedo
Frustrado pelas desditas do Ontem
Ansioso pelos encargos do Hoje
Por favor, dê-me um sorriso!
Olhe-me com carinho
Enquanto faço a barba
E penteio meus já ralos e grisalhos cabelos
Senão parto-te em mil pedaços!
Arrisco-me a sete anos de azar
- é a maldição dos espelhos –
e uma mão cortada pelos teus cacos.
Teus cacos, não se juntam mais.
Estás condenado, espelho meu,
A mirar-me com alegria
Para o bem de nós dois.