Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
segunda-feira, outubro 16, 2006
Sem cartas
Não posto mais cartas:
as envio por correio eletrônico.
Cartas para amigos da Europa
viajam dez dias.
Na perda desta sincronicidade
talvez mudemos de idéia
ou mudemos de humor
ou mudemos de cara.
Não carrego a mesma cara sempre.
Crescem-me o bigode
a barba
o cavanhaque.
Corto os cabelos
fico uma semana sem banho.
Cartas enviadas pelos correios
não contam aos amigos
estas variações de visagem
e de personalidade.
domingo, outubro 08, 2006
BARREIRAS E FENDAS
A fenda não é a questão:
é o caminho
a vereda
a descoberta
o passo possível de ser seguido
a trilha a ser percorrida
apesar de toda imprevisibilidade
dos caminhos desconhecidos
a serem desbravados.
A questão é a fronteira,
a barreira a ser transposta
o obstáculo (in)transponível.
Superação da barreira
exige esforço
transpiração e inspiração:
limite e criação
onde arte e ciência se juntam.
sexta-feira, outubro 06, 2006
Memórias do futuro
Memórias do futuro
se escrevem agora
no esquecimento do passado
naqueles objetos perdidos
ao apagar das luzes do tempo de hoje
nas pegadas dos povos migrantes.
Esquecer é sobreviver:lembrar?
apenas o que fazer
nos intervalos
entre pensar e agir.
O melhor do passado?
Ele passou,
algumas marcas evidentes deixou
tatuadas nos corpos
como rugas
como verrugas
como câncer de pele
como enfisemas na epiderme
como brotoejas:
ou uma flor nos jardins das praças
das metrópoles dos fragmentos.
O futuro começa
no instante depois do verso
no primeiro beijo depois do encontro
na estória que se conta agora.
Amanhã visitei o caderno de viagem
escrevi um poema
sobre a memória de hoje.
Amanhã planejei
onde colocar meu passado:
que ele me perturbe não quero.
Memórias do futuro
suplementos da vida
complementos da alma:
aquela que provavelmente ainda terei
depois dos relatos de viagem
nos tempos de criar raízes.
domingo, outubro 01, 2006
Poema singelo
Se te dói o dente
mastigues gelo;
Se o espelho diz - feio,
mudes o corte do cabelo;
Se sentes frio à noite
deixes crescer o pelo
ou me uses como cobertor;
Se precisas de companhia
eu te cuido com zelo;
Se tens perguntas sérias
te respondo com desvelo;
Se me convidas para vadiar
vou tirando o chinelo
te banho em caramelo
te levo a sonhos em amarelo
outras cores eu tiro do prelo
para imprimir em teu corpo
sol nascente em castelo.
Amanhã, se nescessário,
desfazemos o elo
das correntes metafóricas
que nos une pelo cerebelo.
sábado, setembro 30, 2006
Vidas e corridas
A vida é uma tomada de tempo
de qualquer corrida
seja de cavalos
ou de carros velozes.
Você pode ir rápido
ou desacelerar.
No fim dá tudo no mesmo:
é uma questão de estilo
e de potência do propulsor.
Estou numa fase de desacelerar
mas eu me recuso
a não passar a reta de chegada
numa colocação honrosa.
segunda-feira, setembro 25, 2006
respostas virtuais
Respostas virtuais aparecem
do corriqueiro da vida
do rastapé cotidiano
dos olhares pelas janelas indiscretas
do beabá das inocências perdidas
da decodificação do livro da natureza
(preciso aprender a ler).
Este poema pretende-se
clássico de humor mestiço
respostas não existem
só perguntas merecem
um pouco de nossa atenção.
do corriqueiro da vida
do rastapé cotidiano
dos olhares pelas janelas indiscretas
do beabá das inocências perdidas
da decodificação do livro da natureza
(preciso aprender a ler).
Este poema pretende-se
clássico de humor mestiço
respostas não existem
só perguntas merecem
um pouco de nossa atenção.
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