CURTA 77

O tempo passa quando o vidro escurece.

Antes e depois um vai-vem

De pessoas andarilhas

Às quais tenho, por obrigação

Nutrir suas inconsistências.

CURTA 76

Sou produtor de artefatos imaginários
religados em alguma poesia
(atenção à poesia, cara pálida.
afinal, sou índio urbano).
Meus artefatos surgem nos equinócios
duram até os solstícios.

CURTA 75

Amor não tem medidas,
no entanto sempre me pergunto:
quanto Ella ainda me ama?
Vinte centímetros de largo
ou dois copos d'água de fundo?

CURTA 74

Doo-te meu sangue. Beba-o.
Inocule-o em tuas veias.

Use-o para eternizar teu sorriso.

Leve um pouco de minha fúria de vida

do mesmo modo que me puseste no colo

nos meus tropeços de menino.

CURTA 73

Nasci aos trinta anos.
Uma mulher postula: - Venha.
Antes? eu me enrolava
em arames farpados.
Cresci aos trinta e cinco anos.
Morena de topete propõe:
- Ame. Descortinaram-se horizontes.

CURTA 72

A cidade dos asteriscos
nasceu para crescer pequena.
Avançou sobre rios
enterrou seus brejos.
Chora em todas as chuvas.

CURTA 71

"Saudades do que não fui" - 
- Tristeza fazer lista
de não feitos e não vividos
em tempos idos de coragem
de singrar mares em caravelas.