RELEITURAS ROSEANAS 13

Avanço afirmações sem eco
como ditames parabolados.
Falo bobagens, mas não calo besteiras:
Em terrinas de bater ovos
não se enrola petições.
Quando o tempo tempera em laranja
o azul do fundo das montanhas
chuvas de março se avizinham.
Riacho enche num solfejo
de sopetão volteia ao leito,
vapor de serração preenche o ar.
Teoricamente, assombrações existem.

OBJETOS 37

Objetos para noites acaloradas:
ventilador ruidoso girando no teto;
música mordorrenta balançando o ar;
água fria sossegando o facho;
voz de mulher a meia distância
soprando afagos em coração aquecido.

CURTA 148

Manhã de brumagem,
pouco acontece:
barro de chão amolece,
olhar de cão entristece,
vento leste enfurece.
Broa de fubá me apetece.

OBJETOS 36

Objetos de uso pós-pluviosidade:
tesoura para podar folhas emaranhadas,
lixas para alisar paredes úmidas,
parafusos para pendurar armários trágicos,
réguas para medir coincidências inexplicáveis
(todas as coincidências são inexplicáveis).

MÃE DEVERIA SER DIFERENTE

Mãe deveria ser diferente.

Plantar sementes, não palavras

colher flores, não futuros

trocar afetos, não olheiras

tecer tricôs, não arranjos vocais,

coar cafés, não artimanhas

iluminar veredas, não fossos.

Mãe deveria ser diferente:

Produzidas em série

na cidade industrial

ao lado da fábrica de automóveis.

SER CONTEMPORÂNEO

Contemporaneidade
é o presente que foge,
escapa entre os dedos:
quer ser futuro
sem pensar no amanhã.
Ser contemporâneo
é ser deslocalizado.
Ser vácuo sem ser vago.

CURTA 147

Na minha rua estão as mesmas casas.
No entanto, é outra rua.
Outros tempos: outros lugares.
A cidade de minha infância,
hoje, tem apenas o mesmo nome.