Diminuir meu índice de refração:
- tornar-me invisível para o sistema
(quase já não sou visto dentro d'água,
perco-me na vegetação de meu jardim).
Camaleônico - dirão alguns -
apenas ligeiramente fluido - reafirmo.
Não escorro entre os dedos de minha amada.
Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
sexta-feira, fevereiro 19, 2010
domingo, fevereiro 14, 2010
VALE A PENA VIVER Nº 04 - Concerto para Cecéu
Ano: 1998 eu creio
Local: Paris, Parque de Exposições da Porta de Versalhes
Motivo: Bienal do Livro de Paris
País homenageado: Brasil
Presença de muitos escritores brasileiros
Não os citarei para não provocar ciúmes nos esquecidos
Apenas a presente no episódio dessa narrativa:
Lígia Fagundes Teles palestrava
Em língua francesa
Pedia ajuda a uma intérprete ocasionalmente
A platéia se distribuía em pequenas mesas
Dispostas frente ao palco
Eu e minha companheira em uma delas
Bem localizada próxima à entrada.
Eis que entra Catherine Deneuve
Se acomoda em mesa vizinha:
A musa a menos de um metro.
Congelei a respiração
Para não perturbar a deusa.
Um olho em Lígia outro em Catherine
Uma orelha escutava Lígia, a sábia
Outra ouvia a respiração de Catherine
As duas narinas cheiravam Catherine
A boca aberta por Catherine
O queixo caído por Catherine
O coração batendo forte por Catherine.
Por largos quarenta minutos
Eu vivi Lígia e Catherine
Instante marcante em minha vida
Vale, provavelmente,
Uma década de minha existência.
domingo, janeiro 31, 2010
VALE A PENA VIVER Nº 03
O destino nem é tão longe
mas trajetória é árdua e sinuosa.
Dez quilômetros estreitos de estrada
negociação com o dono da fazenda
quarenta minutos de caminhada
por trilhas serpenteadas (sem/com metáforas)
algumas graviolas maduras para compensar:
assim são os caminhos dos cerrados.
De repente, num alçapão das montanhas
no fundo de uma grota perdida
descortinam-se a cachoeira e o pequeno lago.
Ao lado da queda d’água
uma montanha escalável
- Como será no alto? –
Para subir a montanha
nas pontas dos dedos das mãos e dos pés
necessário atravessar o lago a braçadas.
Surpresa!
No alto da montanha outro lago (menor)
e outra cachoeira (tão bela quanto)
invisíveis a quem não se aventura
a vencer pequenas dificuldades escarpadas.
Mas a visão do vale
ao pôr-do-sol que se apresentava
valeu alguns anos de minha existência.
sexta-feira, janeiro 29, 2010
VALE A PENA VIVER Nº 02
A estrada é larga e longa
leva a destinos precisos
ou imaginários
ou a qualquer lugar não se sabe onde:
destinos não são importantes.
É noite.
Pessoas queridas dormem ao lado
ou no banco de trás.
Uma música leve
e guloseimas para mastigar
ajudam a espantar o sono.
Poucos faróis
tempo para pensare
e uma calma d’alma
como se cumprida uma promessa a si mesmo.
Esse estado de espírito
na auto-estrada à noite
vale uma vida.
quinta-feira, janeiro 28, 2010
VALE A PENA VIVER Nº 01
Gosto de cozinhar.
Lavo as vasilhas, limpo a pia e o fogão,
organizo os ingredientes do dia.
Antes de qualquer continuação abro uma cerveja
coloco o copo na prateleira ao lado do fogão
descasco e pico as cebolas:
o primeiro gole vem antes da primeira lágrima
(quem não chora ao descascar cebolas?)
O copo se esvazia aos poucos
entre o cheiro dos temperos
e a leve fumaça que se evolui
como passista de escola de samba
na pista de dança
e aquela provadinha do molho na palma da mão.
O último gole fica para o mágico momento de por a mesa.
E espero o sorriso de aprovação dos comensais.
Isso vale uma vida.
quarta-feira, janeiro 20, 2010
VIAGEM PARA CRONOS
Caminhos
de ida
são os mesmos de volta.
Só reverter os passos
e repisar nos traços
deixados pelos pés.
Caminhos de ida sem retorno
só para Cronos
terra/tempo
com bilhete sem volta.
RELEITURAS ROSEANAS 09
Mistérios, sempre os há
sempre os haverá de ter.
Ensinamentos modernos desvendam alguns
rompendo crenças e tradições
atualizando conhecimentos
evoluindo modernidades.
Outros são insondáveis:
saberes antigos ensinam,
assim devem permanecer.
Insondabilidade de alguns mistérios
reafirmam a perenidade e insolvência
da vida.
Nem tanta modernidade necessitamos.
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