quinta-feira, setembro 07, 2006

Versos e reversos


Hoje tentei fazer tudo certo
Pinguei todos os is e até os jotas
Craseei os às corretamente
Coloquei vírgulas e ponto-vírgulas
nos bons lugares.
Segui as regras
Escrevi certo em linhas retas
Floreei alguns versos
Melodramei outros
Enxuguei frases molhadas
Reguei palavras secas
Mas nada saiu como previsto.

O texto saiu queimado do forno
O verso por demais apimentado
A estrofe ficou aguada
Não consegui beber a poesia socialmente:
embriaguei-me.
Troquei as chaves da frase explícita
Entrei pela janela do conto fantástico
Dormi no sofá da crônica enluarada.
Acordei com ressaca de romance policial.
Mas tenho no bolso um beijo
comprado na padaria da esquina.

Do cosmo ao caos



Do cosmo ao caos
viajo continuamente
através da poesia-elementos
de minha bagagem
mala de viagem
rumo ao frio das apresentações
em outros planetas
(onde se apresentam recitais
em praça pública).
Sensores de calango
avisam o perigo imininente.
Vou ao cosmo pedir proteção,
desço ao caos buscar pingos de vida
sem temores
pleno de amores-elementos
de minha outra bagagem
mala de viagem
rumo ao calor dos aplausos.


quarta-feira, setembro 06, 2006

eclipses e sofismas


Eclipse lunar
fragiliza piscianos
aviva questionamentos
agita
enerva
produz insônia
torna impossível a espera do amanhecer.

Levanto-me como lobisomem

caminho pelas ruelas tortas
de bairros periféricos belohorizontinos
assusto transeuntes.

Prefiro aconchegar-me no interior dos muros de pedra.

Companhia dos calangos
traz harmonia.

Passa o eclipse

(ainda bem, não são duradouros)
fantasmas desaparecem
mundo volta ao normal.
Tudo são sofismas
grandes cismas
das relações humanas.

domingo, setembro 03, 2006

Mulheres botões de rosas


Algumas mulheres são como botões de rosa
quando desabrocham
ou quando desfolham.
Nunca são flores naqueles momentos de calma,
de observação compenetrada,
quando amamos simplesmente o cheiro,
a cor,
a doçura,
a leveza,
o balanço ao vento.
Têm estes momentos também,
mas são,
principalmente,
movimento:
chegada ou saída;
para o alto ou para baixo;
brisa ou vendaval;
cumulus ou nimbus;
jazz ou chorinho;
comédia ou terror;
silêncio ou burburinho;
beijos ou mordidas;
gritos ou sussurros.
Ainda bem que gosto de cuidar de flores.
Desde quando nascem
até quando viram adubos.

Olhar em cacos


Cristal jogado ao chão se parte
em mil pedaços irrecuperáveis.
Cristalino dos olhos quebra igual.
Tentativas de recomposições do olhar
aumenta ou diminui astigmatismos.
Mas não deforma as formas nem as imagens
da mulher que queremos.
Apenas a vemos diferente
mas a queremos talvez mais.
É o olhar que se quebra
não a imagem.
Esta se recola em fragemtos
no fundo da retina.



A lata do poeta



Sou daqueles que lê manual de instruções.
Isso ajuda às vezes,
principalmente para dar aquele tempo
para que os afoitos pensem.
Para que serve o objeto?
E o amor-objeto, tem validade?
Ele cabe na lata do poeta?
Amor-capacho só serve para que dancem em cima
com sandálias de salto alto?
Se espremermos as paixões elas ficam vermelhas
e cremosas como massa de tomate?
Mistérios também tem data de validade?
Untarei-me com o creme dessas emoções.
Quem sabem ganho uma lambida!

sábado, setembro 02, 2006

regras da cosmologia



Boca desenhada em frutas
corpo magro maduro
carinho e timidez nos olhos
medo no semblante
vontades e coragem.
Sem acreditar
em próprias ações
Agiu.
E calou-se.
Medo de sua própria consciência?
Se não gosta das respostas
melhor perguntar de forma diferente:
regras da Cosmologia
O que fez para você mesma hoje?