Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
sexta-feira, dezembro 01, 2006
Cansaço da poesia
Uma de minhas poetas preferidas cansou de ser poeta;
Malcriação de criança,
Darei uma resposta apenas.
Não serei delicado
Nem curto
Nem grosso.
Tu não tens mais o poder de decidir
Entre ser ou não ser poeta.
Cansada ou não tu ÉS poeta.
Todos que te acompanham
Em teu blogfúndio já definiram
Rotularam
Mediram
Se emocionaram com teus escritos:
Tu És poeta. E das boas.
E todas as emoções que eu tive,
jogo-as onde?
E todas as frases que te dediquei em resposta,
apago-as?
E todas as vezes que te amei entre linhas e letras,
sublimo-as?
Crises passam.
Eu fiquei dez anos sem escrever linha.
De repente, um olhar e um sorriso
(e um beijo) de uma certa mulher (outra):
Recordei que escrever é necessidade básica,
Fruição exigida pelas minhas vozes interiores.
Escrever é exercício de sanidade.
Portanto, escreva.
Mas se não tiver mesmo vontade
Dê um tempo
Até tuas inquietações se domarem.
Pode me xingar de poeta
Quando alguém quiser me xingar
pode me chamar de poeta:
ou vagabundo
ou idiota letrado
ou mercador de prosopopéias
ou batráquio de palavras
ou empacotador de metáforas
ou escritor de frases sem nexo nem plexo
ou amante de divas da verborréia
ou sonhador de inconveniências
ou filósofo de adegas envinagradas
ou escrutinador de pleitos impossíveis.
Tanto faz
dá tudo no mesmo.
Mas o que eu sou de fato?
Criador de calangos
colecionador virtual de assobios de pássaros livres
observador das fendas do cotidiano.
Preguiçoso nato.
Trabalho apenas para manutenção do ócio.
sábado, novembro 18, 2006
Elixir da juventude
Hoje conheci um cara
de noventa e dois anos de idade.
Alegre
jovial
saltitante
feliz.
Uma pergunta:
que te faz tão jovem?
qual o elixir mágico da alegria de viver
e se mostrar tão feliz?
Simples, ele disse.
É só ficar de olho nas meninas
e segui-las
como se os sonhos
se localizassem em suas curvas
e nos seus caminhares.
Lições de sabedoria!
quinta-feira, novembro 09, 2006
BARREIRA E FENDAS II
Função de artista:
criar universos paralelos
inusitados e instigantes
convites à imaginação e devaneios
com passagens indizíveis
através de fendas
invizíveis
a quem nõa tem olhos
de ver o indefinível.
Mas as fendas existem
na curvatura dos universos
nas ranhuras das peças
no caminho das luzes
nas veredas das frases
nas margens das músicas
entre formas suntuosas
nos cortes das superfícies ilimitadas
nos pontilhados negros dos desenhos
nas esculturas cravadas no espaço
no movimento imprevisível dos corpos.
Sem fendas não tem arte
nem artista.
Nas fendas das artes
penetra o insondável.
Sem fendas não tem ciência
nem cientista.
Nas fendas das ciências
penetra o observável
ampliando rupturas
nos hímens permeáveis
das barreiras
outrora intransponíveis.
quinta-feira, outubro 26, 2006
Tesão de aprender
Tem coisas
que prefiro não saber
como fazer.
Se as sei,
faço-as superficialmente
automaticamente
sem pensar
em como fazer.
Se não as sei
faço-as indo ao fundo
de cabeça
para aprender a fazer
bem feito.
Aprender dá tesão.
segunda-feira, outubro 16, 2006
Maldição latino-americana
Viver em lugar nenhum
ter senso de deslocamento
ser estrangeiro em qualquer lugar
é maldição latino-americana.
Viver é adaptar-se à solidão
transigir os afetos
transceder os solipsismos
fugir dos ruídos internos
buscar o silêncio dos amálgamas
das cáries dentárias
criar verosssimilitudes no cotidiano
singularidades no acaso.
Silêncio em cores
Silêncios plásticos
eloqüência dos vazios
vocação para o deserto:
aprendizagens com o envelhecer.
Aprender é mudar de comportamento
Morosidade e passos lentos
ganhos da terceira idade
na aprendizagem da convivência
com a lentidão dos calcanhares
com códigos de palavras não ouvidas
com a simbologia dos entreolhares.
Conviver com os silêncios
é sonhar em cores sérpia:
ouvir apenas os quereres
vindos do interior da epiderme
ou os rumores desenhados
nas contra-luzes das rugas
no rosto vincado de sabedoria.
Todos os mistérios vêm das sombras,
é na penumbra que nos desnudamos.
Tom pastel dos silêncios
brinca na memória dos bem vividos.
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