sábado, agosto 14, 2010

VALE A PENA VIVER 11

Penso, logo o acaso existe.
A existência do acaso
Transforma-nos em filósofos.
O destino nos conduziria em suas amarras
E não nos permitiria
Tempos e espaços para abstrações.
Reminiscências do passado são boas,
Projetos e sonhos para o futuro são necessários
Mas viver o presente
Como um sorvete derretendo em nossa boca
É melhor ainda e mais importante.
O acaso nos coloca em esquinas variáveis,
Deixa-nos a livre escolha de caminhos.
Sejamos aptos para as opções possíveis
Pois vale a pena viver
Ao sabor dos acasos e do livre pensar.



segunda-feira, agosto 09, 2010

VALE A PENA VIVER 10



Minhas musas as conheci jovens:
Katherine Ross
em "Onde os homens são mais homens";
Marília Pera
em "Anjos da Noite";
Gal Costa
cantando Flor do Cerrado
e Trem das Onze;
e muitas outras.
Quando penso em minhas antigas musas
não penso no tempo
e seu carater depredador de nossas imagens:
musas não envelhecem em nossas memórias
que o tempo dilacera em menor velocidade.
Elas mesclam-se, em nosso pensamento,
com outras musas, mais jovens,
conhecidas durante o caminho
e por quem igualmente nos apaixonamos.
Brindemos nossas musas, Cecéu,
pela eternidade delas através de nosso testemunho.
Viver nelas
(como escreveu Yoko Ono)
é uma dádiva e uma necessidade.

domingo, agosto 08, 2010

CURTA Nº 11

Sou um pai muito amado
pelos filhos dos outros.
Os meus tratam-me com indiferença.
Trajetórias.
Difícill refazer caminhos
quando se deixa ervas daninhas
lianas e jararacas
reocuparem as trilhas.

quinta-feira, julho 15, 2010

CURTA NÚMERO 10



É sempre possível fazer poesia
mesmo com pétalas falsas
e pedras de bijuterias.

quarta-feira, julho 14, 2010

CURTA NÚMERO 09


Nada que eu escrevo
é sobre mim mesmo,
é sobre meu outro eu.
Tudo que eu escrevo
é outrobiográfico.

quinta-feira, junho 24, 2010

FUTEBOL É POESIA

Por décimos de segundo a bola se esconde.
Vigiada de todos os lados:
32 olhos eletrônicos a observam
mapeiam
redesenham sua trajetória
fiscalizam suas puras curvas
conceituam seus humores
assertivam suas negativas
postulam suas imposturáveis regras.

Mas a bola, vingando-se de seus criadores
dos laboratórios das genéticas tecnológicas
dos materias insofismáveis,
deixou cegos e atônitos
milhões de espectadores.
Onde esteve nesse imensurável décimo de segundo?
Na linha do gol
ou em suas entrelinhas?

domingo, junho 20, 2010

VALE A PENA VIVER 09



Mais de quarenta anos de futebol
Essas pernas correram
Como se corre atrás de sonhos
Como se corre atrás de pequenas ilusões,
Ou grandes, não importa.
Não fui craque da peleja ludopédica
Apenas um atrevido peladeiro
Dos clubes factoriais e de companheiros,
Fanáticos como eu, talvez.
Pedalei o suficiente para lembrar
Da insustentável leveza da redonda
Amortecida no peito,
Descendo em câmara lenta pelas pernas
Até chegar, mansa e macia, nos pés
Que tentavam sempre a grande jogada:
Talvez não viesse, tal grande jogada,
Talvez a perdesse para um adversário
Qualquer coisa na sequência
era uma grande jogada
e, honestamente, viveria de novo:
reivindico a marcha-ré de Chronos,
o movimento no sentido anti-horário,
o retorno, que breve seja,
a um instante fugaz de alguns anos atrás
para, de novo, sentir essa alegria ínfima,
porém majestosa, de correr depois do gol.