Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
segunda-feira, junho 18, 2012
CURTA 162
Governos são como elefantes:
não esquecem.
Escondem-se em decretos
e penalizam infortúnios.
Sempre é justa causa
ser contra governos.
CURTA 161
Os olhos de Claire Pauli
brilham no escuro.
Rastros de luz em minhas trilhas,
lanternas de cristal puro.
Les yeux de Claire Pauli
brillent dans la nuit.
Traces de lumière sur mes parcours,
lanternes en cristaux pures.
CURTA 160
Ella vestia um colar de pérolas
sobre pele negra, contra-luz.
Só um colar de pérolas.
Quanta beleza, quanta dignidade!
Ella portait un coulier en perles
sur sa peau noire, contre-lumière.
Un coulier en perles, plus rien.
Quelle beauté, quelle dignité!
CERTAS VALENTIAS
Tomei sol torso nu
a menos cinco de temperatura
e três mil de altura.
Encarei gigante de dois metros,
por não levar desaforo para casa,
peguei boi pelos chifres,
pisei descalço em brasa.
Perde-se, ao envelhecer,
certas valentias.
Tenho medos à luz do dia:
qualquer inverno ouropretano
me amolece;
qualquer curva da estrada
me arrefece;
qualquer anoitecer anuviado
me entristece.
sexta-feira, junho 15, 2012
CURTA 159
Descrever a aldeia
é falar ao universo?
Queria ter terra,
nasci inverso.
À margem de estrada
cresci andarilho, confesso.
Pés criaram calos, não raízes:
Continuo travesso!
quinta-feira, junho 14, 2012
OBJETOS 39
Objetos para espantar mau olhado:
arruda rameira plantada no jardim;
ferradura usada em destaque na sala;
réstia de alho na mesa da cozinha;
paixão grande por uma pessoa
dessas de desarmar despropósitos.
quarta-feira, junho 13, 2012
VALE A PENA VIVER Nº 16
Polvilho das melhores mandiocas
ovos de galinha caipira
copim de óleo para dar liga
sal em pequena pitada
queijo (ralado) só existente em Minas.
Junte-se a esses ingredientes básicos
mãos ágeis e pacientes
aragens de nossas montanhas
meia hora a cento e oitenta graus.
Serve-se com café feito na hora
queijo canastra acompanha bem
lascas de pequi para os mais ousados
requeijão com raspa preferem outros.
A prosa é elemento fundamental:
mínimo, duas pessoas;
máximo, conforme tamanho da mesa.
Melhor não comer sozinho -
melancolia escolhe os solitários.
Pequeno risco: não ver a hora passar;
grande risco: comer longe de casa
(lágrimas adoram distâncias).
Vale a pena viver
com esses prazeres sem hora marcada.
(para D. Jandira, que faz o melhor pão de queijo do mundo)
Assinar:
Comentários (Atom)