Poesias urbanas, do cotidiano, da natureza das coisas, são temas do poeta. Seu universo poético varre, principalmente, os poemas curtos, incluindo haicais e aldravias, além de outros, sínteses de variadas inspirações filosóficas e mundanas.
terça-feira, dezembro 04, 2007
CERTEZAS E INCERTEZAS
CERTEZA N° 01
As coisas nascem primeiro
nas mentes das pessoas,
depois elas acontecem.
CERTEZA N° 02
O que não existe como matéria e massa,
só existe nas mentes das pessoas.
CERTEZA N° 03
Fantasmas não têm matéria e massa,
então só existem
nas mentes das pessoas.
CERTEZA N° 04
As leis da natureza
também não têm massa,
portanto só existem
nas mentes das pessoas.
INCERTEZA N° 01
Se as leis da natureza não existem,
a não ser nas mentes das pessoas,
podemos transgredi-las facilmente?
CERTEZA N° 05
O tempo não tem massa, mas existe,
e pega emprestado
matéria de nosso corpo,
deixando-nos rugas, perdas e lacunas.
CERTEZA N° 06
A realidade, que pode ter massa,
não existe,
sua representação, que não tem massa,
sim,
e está nas mentes de todas as pessoas.
CERTEZA N° 07
A fotografia das massas das estrelas,
que não têm a massa das estrelas,
existem,
não só nas mentes das pessoas,
também nas telas dos computadores.
INCERTEZA N° 02
Se nós trocamos quase toda
a matéria de nosso corpo
a cada ano,
como podemos dizer
que somos os mesmos
do ano passado?
CERTEZA N° 08
Como alimentamos e excretamos
regularmente,
a troca da matéria existe,
e não está na mente das pessoas.
CERTEZA N° 09
A luz,
que pode ser ou não ser matéria,
existe,
não só na mente das pessoas
e ilumina-as.
CERTEZA N° 10
As ondas transportam energia,
não são matérias e não têm massa,
mas existem também
nas mentes das pessoas.
CERTEZA N° 11
A ciência e a arte não têm massa,
logo só existem nas mentes das pessoas.
A qualidade de nossa existência
(temos massa)
depende fundamentalmente
da pseudo-inexistência
da ciência e da arte.
INCERTEZA N° 03
A ciência e a arte,
pseudo-existentes,
são complementares, excludentes,
ou simplesmente independentes?
CERTEZA N° 12
As minhocas arejam
e fertilizam a terra,
logo, quem tem minhocas na cabeça,
têm o cérebro arejado
e fertilizado.
INCERTEZA Nº04
As mentes das pessoas arejadas,
com minhocas na cabeça,
são as que pensam nas coisas
e as fazem acontecerem?
quarta-feira, novembro 07, 2007
RELEITURAS ROSEANAS 06
O ignorado e o sabido se perturbam
mais que matéria e antimatéria
mais que o perdido e o achado
em meio à massa
no estádio de futebol de domingo.
O desconhecido e o verificado se estranham
mais que nuvem negra
no começo da teimosia da chuva
em querer vir não vem
deixando os ares desconcertados
em raivosos trovões.
Caminhos e descaminhos se desconfortam
nas entrelinhas da viagem
tanto quanto belezura e feiúra
também alegrias e tristezas
na desmesura das janelas
descortinando horizontes.
Mas coração de pai se enaltece
com ligeiras formosuras
e sabedorias evoluentes
de filhos e filhas se esparramando
na gastura das horas rubricadas.
Viver é querer apagar,
com o vento,
a luz elétrica da varanda
como se lamparina fosse.
terça-feira, novembro 06, 2007
ARES E MÚSICAS
Algumas músicas necessitam vento
para serem ouvidas.
As notas se orquestram bem
com o zumbido de ar
nas frestas das janelas.
Mas se a tempestade vem
melhor desligar o som.
Tempestades exigem silêncios
para serem melhor contemplados.
quinta-feira, outubro 25, 2007
Primeiro objeto
O primeiro objeto pode ser a mão
recipiente para colher a água
e beber
concha para pegar o grão
e comer
garra para acolher a mulher
e amar
O primeiro objeto pode ser o dente
ponta pronta para triturar
para morder
para dar de comer
ao filhote.
O primeiro objeto pode ser o pé
sentir o chão e por-se de pé
ver a bola e chutar
conhecer a estrada e caminhar
cair na água e nadar
incomodar-se com o pau da barraca
e mandar o mundo a outro lugar.
O primeiro objeto pode ser o nariz
de cheirar fragâncias
o primeiro objeto pode ser a boca
de oscular opulências
o primeiro objeto pode ser a língua
de lamber molemolências
o primeiro objeto pode ser a cabeça
de pensar e carregar abundâncias
o primeiro objeto pode ser o dedo
de apontar reticências
o primeiro objeto pode ser o pênis
de penetrar reentrâncias.
Entre nós e o mundo
coisas
artefatos
objetos
técnica
tecnologia
ciência
cultura
outro corpo.
Corpo-objeto
corpo-artefato.
Definições e perdas
Definições incluem perdas
assumem ausências
carências, ardências na pele,
querências.
Ao me definir me perco
ao me escolher, desapareço
ao aparecer, virtualizo-me
virtualizando-me, fluidifico.
Minha identidade
minha imagem
fotografia antiga em papel amarelo
ou retrato vivo na tela do computador.
Velhos se renovam.
Substantivos e outros substantivos
Você vai ao museu do relógio
para ver as horas?
Você vai ao museu da língua
para ver as falas?
Você vai à biblioteca
para ver o conhecimento?
Você vai ao templo
para ver deus?
Você vai à casa substantiva concreta
para ver substantivos abstratos?
Horas
falas
conhecimento
deus
abstratos
substratos do concreto edifício.
sábado, outubro 06, 2007
IMPONDERABILIDADES DE UM VERBO SÓ
Visto um terno
dou nó na gravata de seda
desço para a cozinha
faço arroz com feijão
como pão com manteiga e mortadela.
Miro a foto da morena
da serra morena
(será minha) e digo:
- eu dou nó na gravata
e como pão -
Simples assim
concreto assim
palpável assim.
Eu como pão com manteiga e mortadela
e arroz com feijão.
Depois faço do tirar a veste
um ritual pornofônico:
grito quando gozo.
Meus noventa quilos
pesam-me mais que o normal
não consigo emagrecer:
arroz com feijão,
pão com manteiga e mortadela
(de vez em quando acrescento
queijos, vinhos e picanhas na chapa)
o impedem.
Tento fazer poesia
escrevo imponderabilidades
de um verbo só.
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