sábado, setembro 02, 2006

Poesia depois do hosróscopo


Consigo escrever
depois de ler meu horóscopo
aquele pedacinho de fim de página.
Sou Peixes, signo terminal
escorregadio
cheio de fé e paixão
recebe emanações de todos os planetas, dizem.
Estamos mais fracos sem Plutão?

Branco súbito e silêncios doentios



Deu um branco súbito
Passei a enxergar tudo preto
Branco e preto são minhas cores
Excesso e ausência cromática
Visão de mundo
Esquecimento
Forma de sobrevivência
Esquecer para viver
Lembrar para morrer aos poucos.

Ainda sou amante dos silêncios
Todos os silêncios do mundo
Reunidos em meu pensamento
Conduziriam à vida eterna
Submerso em imenso nada?
Então aceito alguns barulhos:
Canto de pássaros
Som das águas
Vozes femininas em momentos de ternura
Algumas músicas
Para tecer a vida.

O que fazer com ruídos de cidades?
Que equilíbrio para cores e sons?

quarta-feira, agosto 30, 2006

Palavras do Rei



Não se perca
nas curvas da estrada de Santos
nem debaixo dos caracóis de meus cabelos:
palavras do Rei.

não se perca
entre as lutas fictícias entre o bem e o mal
certo e errado
qualidades e defeitos
luzes e sombras
branco e preto
jovem e velho
eu e você:
palavras das luzes urbanas.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Amor-capacho

Reorganizei meus pelos
Lavei-os com amaciante de roupas
Só para ser um piso macio
Para tuas sandálias
E teu salto alto.
Que deixem marcas profundas
Quando sapatearem sobre mim
Aquele jazz de New Orleans
Ressurgida de sua katrina
Com a dor dos furacões enraivecidos
Chorando as perdas de seus violões
E cantos roucos das ruas.
Mas tua dança
Sobre o amor-capacho
Não será de raiva,
Nem de vingança,
Será de esperança.
Estando em baixo
(por baixo nunca estou)
Vejo as curvas dos tornozelos
Sob um fundo azul
Vejo as estrelas e a lua
Se noite for.


segunda-feira, agosto 21, 2006

Razão e felicidade


Não quero ter sempre razão
Gostaria de sempre ser feliz.
Tenho sucesso nas duas proposições:
quase nunca tenho razão
por desacertos de minha inteligência
ou acertos de minha ignorância
(reivindico meu sagrado direito à ignorância)
e sou feliz por opção.
E bem-humorado por obrigação
e respeito ao outro.


domingo, agosto 20, 2006

INDIVÍDUO



Não sou liberal
não sou conservador.
Eu sou UM
INDIVÍDUO.

Não pertenço a tribos
nem a escolas
não escondo em trincheiras
não habito em guetos
não frequento igrejas.
Não caibo em panelas
embora seja sempre fritado.

Meu mundo cabe em minha mochila
onde tem um livro
um canivete
(todo homem devia ter um canivete
símbolo fálico poderoso
que trazemos desde a infância
vivida no interior)
uma chave de fenda
uma caneta
um caderno de anotações
(poesia não avisa quando vem)
um par de óculos
(presente do portal do tempo)
uma agenda
(sou homem de compromissos)
e muitas lembranças.

Não sou politicamente correto
sou a favor de cotas
odeio patrulhas
não filio a partidos
voto sempre nos contrários

à elitização nacional.

Não sou branco
não sou negro
não sou índio.
Sou pardo
sou mestiço
aquele que não parece nada
por ser mistura de tudo.

Preciso aprender sempre
para me desvencilhar de rótulos
das amarras
e ter pensamento livre.

Não sei rezar nem orar:
sou animista.

Meus animais de estimação:
uma onça pintada -
encontro-a regularmente,
ensinou-me sutilezas
de observação e convivência;
uma casal de saíras -
visitantes de meu jardim
cagantes em minha janela;
uma família de calangos -
predadores de insetos
de meu quintal.

Não me apego a objetos
não consigo carregá-los
em viagens e mudanças:
não moro três anos no mesmo endereço.

Não sei dar nó em gravata
evito cair em armadilhas
reais ou intelectuais.

AMO AS MULHERES!

OBJETOS I



Caos
se transforma em coisa
que se transforma em objeto.
Objeto em princípio é útil
depois torna-se inutilidade
quem sabe chega a arte.
Como arte se intala
até perder-se no caos.
Num futuro arqueológico
será arte de novo.
Para sempre, quem sabe?