quinta-feira, agosto 30, 2018

RELEITURAS ROSEANAS 30


O riacho de minha infância
Se esmiuçou até secar.
De repente, escutei calado
O estalo de seu silêncio,
A falta daquele burburinho
Da pequena queda d’água:
Acordei com escuro no peito
E tremor de mágoa nos olhos.
Zeluiz, meu cachorro, sumiu.
A vida cobra tudo muito caro
Só me resta encarecer-me
em saberes de poeiras do mundo
E ser perito em solidões.


segunda-feira, agosto 27, 2018

SEU OLHAR


Seu olhar me ilumina
Ela nega a própria retina
E diz que é fraqueza!

Seu olhar é um chamariz
Ela nega a própria íris
E diz que é moleza!

Seu olhar é cheio de cor
Ela nega a própria flor
E diz que é tristeza!

Seu olhar para mim é carinho
Ela nega o próprio caminho
E diz que é princípio!

Seu olhar para mim é de amor
Ela nega o próprio calor
E diz que é oportunismo!

Seu olhar para mim é paixão
Ela nega a própria expressão
E diz que é. ...
... qualquer coisa
Que se perdeu na trajetória
Desenhando outros rumos para nossa história.

sábado, março 24, 2018

RELEITURAS ROSEANAS 29

O vazio do sertão: com quê se preenche?
Em lagoa cheia de junco
Não dá para molhar o pé.
Naquelas noites claras de estrelas
Quando a cabeça quase esbarra nelas
De tanto sonho apaziguado
Nem quero que o céu clareie.
Essa escuridão me entorpece
Porque dentro de mim é luz
Com rastros de sombras, claro,
Desenhados nas paredes do pensamento.

Fruta boa é colhida no chão
Aos pés dos passos despassados.
Arteio nos portantos, subo no pé
Para deixar digitais na fruta
Lá da galha mais alta: apropriar-me.
Quem sabe bem-te-vi a respeite
E qualquer passante a saboreie?
Nos saberes e os cheiros
Corações preenchem o sertão.

quarta-feira, janeiro 24, 2018

CURTA 278

Ella é um momento,
um instante na prateleira de achados e perdidos
onde posso me encontrar às vezes.
Um instante fugaz na geladeira
do qual me alimento todos os dias.
Um relâmpago na chuva da tarde
de onde retiro toda minha energia
para reaquecer-me de luz
mesmo que um brilho repentino
na noite escura de uma vida etérea
.

sexta-feira, janeiro 05, 2018

RELEITURAS ROSEANAS 28

Viver e me aventurar
São obrigações imediatas
Malgrado belicosos perigos.
Não sou caso perdido
Achado estou.
Tenho, como todos,
Incertezas de minhas afirmações.
A saudade ataca, às vezes,
E nem perco o siso nem o sorriso
Nem truqueio com as perdições.
Permaneço em silêncio quase calado
Quando o mal universal
Cochila em destinado lugar.

Fora isso, falo de amor.
Amor, tem que ter assunto!
De tanto amor, quero vê-la
Em organizado prazer.
De tanto amor, quero tê-la
Em prazeroso viver.
Quem esperança, vivencia
Quem planta flores, florencia
Quem sorri para o mundo, reverencia.
Entre vivências, flores e reverências
Aventuro-me, obrigatoriamente.

terça-feira, novembro 28, 2017

RELEITURAS ROSEANAS 27

Amar não é verbo:
amar é presença de luz
que alumia os arrabaldes,
espantando trevas mal afirmadas.
A vida nunca é onde:
sempre é quando. Agora.
Para a saudade duvidosa
a ternura intacta.
Para ideias fixas,
muitas ideias desparafusadas.
O pão nosso é que faz o cada dia:
o sol, e até mesmo o céu,
são abertos ao público.
Basta reviver a magia,
a cada hora, de romper a alegria.
Para qual homem, tal tarefa.
Sou pessoa de muitas estimas
e não tenho a imprudência da certeza.

Sou apenas alguém sob o arvoredo.

sexta-feira, novembro 24, 2017

CURTA 277

Eu tenho vários passados
nenhum deles me assombra
nenhum deles é minha sombra.
Minha luz vem com o amanhecer
carrego-me dela como célula solar
para brilhar ao anoitecer.