segunda-feira, setembro 25, 2006

Metáforas áridas

Não sou árido nem úmido
Dostoiévsky é árido
Tostói é úmido.
Impossível transformar
Mundo e vida
Simultaneamente
Sincronicidade inexistente
Temporalidade renitente
Cronografias rabiscadas
Em papel de parede
Marcas de acidez
De vidas relutantes
Ensaios perdidos
Em memórias incansáveis
Passado e futuro se aproximam
No dia de hoje
Mundo e vida
Dentro e fora do corpo
Tais elásticos dialogam
Tensões existenciais inexplicáveis
Entre meu eu
E meus calangos.
Metáforas áridas impossíveis.

Luz e sombra

Desorientação
Dúvida
Descoberta
Surpresa
Sequência natural da busca
Luz e sombra se aproximam
Nas frestas imaginárias
Onde passa a perfeição
Eclipses não descortinam
Veredas
Relações nos pontos de inflexão
Ganham pontos de interrogação:
Voltas longas por trás das montanhas
Ou atalhos pelos túneis escuros
Encontro com novas luzes no final?

sexta-feira, setembro 22, 2006

Linha torta



Eu sou a linha torta
perdida nos planos inclinados
rabiscada por mãos incrédulas
invejosas de retas
e pontos de exclamação!

O que eu prometo
de vez em quando eu cumpro.
O que eu solfejo
de vez em quando vira música
de tocar nos bailes.

Tenho fome de mim
e de tudo que se prenuncia
para depois do fim
dos recitais das cortes
do rei sol primeiro
grande astro de luz

Encomendo sorrisos de sorrideiras
para o dia de meu nascimento.
Quero récitos e alegorias
de carnaval.
Que tudo recomece
principalmente as ilusões.


domingo, setembro 17, 2006

Pedalando bicicletas líquidas


A Terra é muito grande lá fora, cara!
Eu queria estar no país dos cafezais
Vejo plantações de trigo
Fico em meu quarto.
Não adianta procurar aqui fora
O que dentro está.

Homem é animal perdido no tempo
E no espaço de suas indiosincrasias
Não sabe seu lugar no mundo
Tem medo da morte
Reza para que ela demore.

Meus sonhos parecem durar horas
Mas tudo se passa em segundos
Significado da vida é vida
Porque tanta procura de significados
Escondidos sob as pedras
Na luz que emana do cérebro
No esquecimento da realidade
Nas frestas dos tijolos?

Nas frestas
Onde o olhar não penetra
Onde a poeira corrompe a arte
E sombras mostram limites.

Liberdade é para quem a vive
Pensa e pratica.
Não pode ser uma palavra no papel,
Talvez um quadro na parede
Ou sementes de girassol para pássaros.

Quero ver o mar
Transbordando em luz do amanhecer
(Um banho me fará bem)
Quem sabe rolar na areia
Sentir em casa
Em qualquer lugar da Terra.
Sinto-me ainda melhor
Pedalando nas águas
Bicicletas líquidas.

Boas músicas não são precisas
Deixam lugar para o inexplicável
E terminam em grandes silêncios
Como pretende esse poema.


Vida não tem bis


A vida é dura
Mas não tem bis
Então relaxa e goza.
Longe de casa
Rotina vira ao avesso.
Carrego o germe da poesia
Para plantá-la em outras praças
De outras cidades
No coração de outros povos.
Homens sensíveis são rotulados
Tão prontos
Como pessoas não normais.
Inveja de canastrões.

Fogo das reminiscências



Guerra surda
Travamos com nós mesmos
Nosso íntimo
Nossa pele curtida
Rugosidades provocadas pelos sóis
E ventos norte e noroeste.
[Aqui no sul, dizem, são ventos perigosos]
Meu governo de mim foucaultiano
perde seus espaços
pelo governo antidemocrático dos outros.
Que poderes tenho
Para polir as arestas
Destas armas e armadilhas
Articuladas nos jogos de outros poderes
Sobre os quais meu discurso de bom moço
Não cola nem descola?
Mudar os discurso?
Construir narrativas engajadas?
Fazer campanha para voto nulo?
Tornar-me apolítico?
Deixar crescer os cabelos
Como nos tempos do psicodelismo itinerante?
Indigo blues são vendidos em hiperlojas
Rock’n roll progressivo quase não toca mais na rádio
(as que tocavam fecharam sem nos consultar).
Estradas são muito perigosas hoje.
Evolução não nos deixa ter saudades
Melhor entrar de vez na era da tecnologia
E da informação
Nossa memória também é banco de dados
Armazenados para quando tomarmos um vinho
Diante do fogo das reminiscências.

sábado, setembro 09, 2006

Marte em Libra


Marte em Libra
Má pontaria na rotina.
Comecei o dia de porre
Não etílico
Basílico
Hesitativo
Pendurativo.
Vontade ficou na cama
Minha sombra desceu as escadas do quarto.
Sonâmbulo e meditativo
Curto o sol de setembro
Espero pela primavera
Observando vai-vem de calangos
Do jardim de cactos.

Quem sabe ELA

(a primavera?)
Chegue antes da chuva
Com seu alento
Soprado no vento
Como música lenta
Boa de dançar abraçadinho.

Hoje não quero pensar em nada

Fazer nada
Falar nada
Nem sorrir nem chorar
Manter os olhos abertos basta
Antenas da observação ligadas,
Suficiente.
Contento-me com a nota de rodapé
Com o pé de página da história
Deste Sábado ensolarado.

Hoje quero ser ingênuo,

Falar de amor como lema
De construção da civilização
Saudável, crítica, sem violência.
Ingenuidade não basta para distanciamentos
De mim mesmo.

Não sou triste nem pessimista:

Estou de porre a-criativo
A-amoroso
A-sexual.
Acalento a idéia da virada histórica
De todos os símbolos.

Que venha, Marte,

Dar sua volta em todos os signos.
Que venha para Touro,
Novamente.