domingo, agosto 13, 2006

Sedução do nada



Não é o tudo que me seduz
O que me seduz é o nada
As saliências e as entrelinhas
O oco e o vazio.
Buracos me enchem os olhos
Terreno baldio brilha
Crateras parecem-me lindas
Abismo é encantador
Núcleo dos átomos
É uma ilhota
Em oceano de vácuo.
Espaços desocupados
Ausências e silêncios
Ícones de sedução
e da controvérsia:
Preenchê-los com a beleza
que eu queira
ou admirá-los
em desmatéria sólida?

2 comentários:

D. disse...

Não é o tudo que me seduz
O que me seduz é a entrelinha
O intervalo
A reticência
A ignorância da ciência
O soluço
A porta semi-aberta

Coágulos de amores não resolvidos
Cápsulas de medo ou sorte
Aneurismas de escolhas comodistas
Em nome de uma história politicamente correta

Debora disse...

nada nasceu em lugar nenhum
cresceu sem letras, sem vírgulas,
travessões e reticências

não tinha história
(onde o nada estava em 68?)

qual o seu nome?
tem cor?
desejo? o nada deseja nada?
nada amou e foi amado?
cheiro
sonhos
dinheiro - o nada preenche minha conta bancária
( ah, se o nada fosse tudo!!!!)

nada se matou
se atirou de um abismo
nada deixou para a família
ninguém foi ao enterro
(seu unico amigo)
mas muitas mulheres choraram

aqui jaz nada
nada foi pro inferno?
nada virou um fantasma
nada me assombra
as vezes o vejo pela janela, nas noites de insonia